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Complexo Babaulti  
Artigo publicado em 10/01/2012, última edição em 23/12/2022  


Camarão Malaio. Foto Planet Inverts.



NomeCamarões do complexo Babaulti / Babaulti complex Shrimp
Nome científico: Caridina babaulti (Bouvier, 1918)
Origem: Ásia
Tamanho macho/fêmea: 2.5 cm / até 4.0 cm
Temperatura: 24 - 28°C 
(ideal 25°C)
pH: pH 6.2 - 8.0
TDS: 100 - 150
GH: 6 - 8
KH: 3 - 8
Taxa reprodutiva: Baixa a média (larval)
Sociabilidade: Pacífico
Dificuldade: --
 



O complexo de espécies Caridina babaulti

 

Visão global

Caridina babaulti é um belo e misterioso camarão anão, relativamente novo e mais incomum no comércio ornamental. É vendido como se fosse uma única espécie com grande variação de cores (verde, marrom, vermelho, amarelo) e padrões (faixas e manchas). Eles têm a interessante capacidade de mudar de cor muito rapidamente quando assustados. Por este motivo, são eventualmente chamados de Camarão Camaleão.

São conhecidas mais de 300 espécies de Caridina, encontradas em todos os continentes exceto Antártida. Pertencem a este gênero os populares CRS, Tigers e as espécies de Sulawesi. Atualmente muitos destes camarões são agrupados nos chamados grupos / complexos de espécies (definido como um grupo de organismos aparentados que têm aparência muito próxima, a ponto que os limites entre eles se torna indistinto), como o Complexo serrata, Complexo gracilirostris, Complexo nilotica, etc. Não existe, do ponto de vista acadêmico, o “Complexo babaulti”, este é um termo leigo que se popularizou entre aquaristas, na tentativa de agrupar algumas diferentes espécies ornamentais que provavelmente são próximas do Caridina babaulti.

Por ser um termo bastante consagrado pelo uso, iremos nos referir a estes camarões como Caridina cf. complexo babaulti (a abreviação cf. vem do latim confer/conferatur, ambos significam “comparar”, usado para identificações presuntivas, prováveis e aproximadas), mesmo cientes da imprecisão.

 

O Caridina babaulti Bouvier, 1918 é uma obscura espécie indiana descrita originalmente na região central do país, nos estados de Madhya Pradesh and Chhattisgarh. Seu nome vem do naturalista francês M. Guy Babault, que coletou o primeiro espécime. Os exemplares originais de museus estão bastante degradados, sendo que a espécie foi re-descrita em 2019 com uma nova espécie-tipo coletada na península de Saurashtra. Neste artigo, os indivíduos selvagens são descritos como sendo de uma cor branco pálida, e detalhes da sua anatomia (como a fórmula rostral) diferem bastante das espécies ornamentais, sugerindo que não se trata desta espécie. Havia uma subespécie de babaulti (Caridina babaulti basrensis Al-Adhub & Hamzah, 1987) encontrada no Irã e Iraque, que foi invalidada recentemente (2019, sinonimizada com a espécie ornamental Caridina fernandoi Arudpragasam & Costa, 1962).


Em 2021 foi detectado como espécie invasora em Miskolctapolca, Hungria, em águas termais, numa colônia mista com Neocaridina davidi. Estes exemplares foram analisados com ferramentas moleculares (COI), confirmando sua identidade, e sendo a primeira vez que espécimes de aquário foram formalmente identificadas como C. babaulti. Os autores descrevem pequenos camarões de cor chocolate, mais intenso nas fêmeas, que se tornam esverdeados após captura e manipulação.

 

Em termos de espécies ornamentais, muitos camarões com diversos nomes comerciais pertencem a esse grupo, mas nenhum deles foi especificamente identificado (não se sabe qual deles corresponde à espécie invasora húngara). Aqui estão incluídos:

  • Camarão verde indiano

  • Camarão zebra indiano

  • Camarão malaio

  • Camarão arco-íris

  • Camarão blueberry

A situação fica ainda mais complicada, já que parece haver várias espécies verdes, assim como de outras cores. O "camarão arco-íris" costuma ser uma mistura grosseira de espécies nos embarques de importação. Diversas espécies são vendidas também como “blueberry’ (mirtilo), bastando ter uma cor próxima.


Camarão Verde Indiano, e sua incrível variedade de cores. Fotos de Chris Lukhaup.

 

Tamanho do aquário e parâmetros da água

Sugere-se um tanque de pelo menos 40 litros. São camarões bastante ativos, resistentes e que demandam pouca manutenção, uma vez bem aclimatados. Toleram uma ampla faixa de parâmetros, existe alguma controvérsia em relação aos parâmetros ideais de água, talvez por se tratar de mais de uma espécie. Os mais aceitos são semelhantes ao Red Cherry, com a diferença que preferem temperaturas mais elevadas, por ser uma espécie tropical. Os parâmetros ideais estão sumarizados na tabela no início do artigo.

Um detalhe importante que deve ser lembrado é que (ao menos nos mercados norte-americano e europeu), a quase totalidade destes camarões são coletados na natureza, e importados diretamente. Isto explica a elevada mortalidade inicial, devido ao estresse da coleta e transporte. Muito cuidado deve ser tomado nesta etapa, com aquários bastante maduros e estabilizados. Uma vez bem adaptados, são camarões extremamente robustos. A expectativa de vida varia de 1 a 2 anos.

 

Alimentação

Semelhante a outros camarões anões, sua alimentação é onívora com preferência para algas e micropartículas. Comem uma grande variedade de alimentos, aceitam as mesmas rações de outros camarões, assim como comidas caseiras, verduras, folhas de amendoeira, etc.

Parecem ser mais eficientes como algueiros do que outros anões, passando o dia todo raspando superfícies e alimentando-se de algas e biofilme. Desta forma, a quantidade de alimentos que deve ser oferecido a estes camarões é menor do que as demais espécies.

 

Reprodução

Ainda há alguma controvérsia em relação ao padrão reprodutivo destes camarões, especialmente ao lembrarmos que trata-se provavelmente de mais de uma espécie. Algumas fontes descrevem um padrão completamente abreviado de reprodução, semelhante à maioria dos camarões ornamentais Caridina e Neocaridina, onde dos ovos nascem pequenos camarões bem formados, miniatura dos pais. Porém, o mais provável é que todos os camarões deste grupo tenham um tipo parcialmente abreviado de reprodução, ou seja, nascem diminutas larvas mas que rapidamente (alguns dias) passam por uma metamorfose para pós-larvas. Diferente das espécies de reprodução primitiva (como o Amano ou Potimirim), a duração da fase de larva é extremamente curta, as larvas são bentônicas (ao invés de natantes), e não necessitam de água salobra para sobreviverem. Outra diferença é que nesta fase de larva não se alimentam, consumindo nutrientes de seu saco vitelínico. Desta forma, não necessitam de alimentos especiais. Após a eclosão, as diminutas larvas podem ser vistas agarradas a superfícies do aquário.

Este padrão de reprodução explica o fato de gerarem um número maior de ovos, e ovos de menores dimensões. Os ovos são elípticos, medindo em média 1,2 mm, e sua cor varia de esverdeado a amarelado. Geram em média 50 a 80 ovos. Os ovos permanecem na câmara incubadora até a eclosão, por um período de cerca de um mês. As larvas são muito pequenas e frágeis, embora não necessitem de alimentação especial, têm uma mortalidade elevada. Mesmo as pós-larvas têm menores dimensões do que outras espécies, e são mais difíceis de alimentar, o que explica uma maior mortalidade inicial, e a maior dificuldade em reproduzi-los. Recomenda-se um tanque mais antigo e bem ciclado. É fundamental a colocação de esponjas na entrada do filtro, para evitar que os filhotes sejam sugados. 

Essas espécies são muito prolíficas e podem se reproduzir em grandes números. No entanto, o número final de filhotes costuma ser pequeno, ainda menor do que os Neocaridina. Como já mencionado, a grande maioria dos camarões à venda em lojas são exemplares selvagens coletados.

 

Aqui estão algumas das variedades que se enquadram neste grupo:

Camarão Verde Indiano:

Novamente, não é certo se trata-se de uma única espécie, ou várias espécies vendidas com um nome comercial comum. Possuem também outros nomes populares, como Camarão Neon Verde. Têm um rostro bastante longo e cheio de dentes dorsais, com aspecto serrilhado. Alguns exemplares são maiores, podendo atingir até 4 cm. 

Camarão Verde Indiano. Fotos de Chris Lukhaup.


Apresentam-se com uma grande variedade de cores, e também podem mudar de cor rapidamente, como um camaleão. Passam do verde para vermelho, marrom, laranja e azul, dependendo de fatores como estresse, alimentação, e principalmente a cor do substrato. Animais estressados são pálidos e sem cor, desenvolvendo a coloração somente quando bem adaptados ao tanque. Alguns aquaristas descrevem até mudanças de cor nos machos como uma forma de exibição sexual. As variedades de cor são difíceis de se fixar, algo semelhante ao que acontece com os Malawa.

 

Camarão Verde Escuro:

Esta variedade (Dark Green Shrimp) é mencionada somente no site americano Planet Inverts, segundo o autor, trata-se de uma espécie distinta do Verde Indiano, importada desde 2007. Não há outras informações disponíveis na net de outras fontes.

Camarão Verde Escuro, foto Planet Inverts.


Segundo o autor, é um camarão com uma cor verde mais escura e intensa do que o Indiano, e com menor capacidade de mudança de cor. Bastante prolífica, seus filhotes são extremamente pequenos, e de coloração avermelhada escura, o que também o diferencia do Indiano. Seu crescimento é bem mais rápido do que o Indiano, atingindo a maturidade sexual bem antes. 

Ovos e filhote do Camarão Verde Escuro, com sua típica coloração. Fotos Planet Inverts.



Camarão Zebra Indiano:

Possui outros nomes, como Babaulti “Stripes” (faixas). Lembra bastante o Caridina fernandoi, mas tem o rostro mais longo. Atingem a maturidade sexual bastante precocemente.


Camarão Zebra Indiano. Fotos de Chris Lukhaup.

Tanto machos quanto fêmeas têm o corpo translúcido com uma cor de base marrom ou acinzentada, mais raramente avermelhada ou amarelada. Possuem de 5 a 7 faixas largas escuras e transversais no corpo, e outra na região caudal, todas irregulares e que podem ser descontínuas. Geralmente uma colônia destes camarões tem uma grande variação no número e aspecto das faixas.


Camarão Zebra Indiano. Fotos de Chris Lukhaup.

 

Camarão Malaio:

Em inglês, Malaya Shrimp ou Malaysian Shrimp (O nome Malaya deriva da antiga Federação Malaia, que se uniu a outros países em 1963 para formar a atual Malásia). Cuidado para não confundir com o Camarão Gigante da Malásia.



Camarão Malaio. Fotos de Chris Lukhaup.

Importado à Alemanha desde 2000, e aos EUA desde 2007, coletadas na Malásia. Seus parâmetros de manutenção são semelhantes às demais variedades deste artigo, algumas fontes mencionam uma preferência por um pH mais elevado (7.8 a 8.0). São camarões pequenos, medindo até 3 cm.

Camarão Malaio. Fotos Planet Inverts.


Há uma clara diferença de coloração entre os gêneros, os machos são quase translúcidos e de cores pobres, além de serem menores que as fêmeas. As fêmeas podem ter uma grande variedade de cores, variando de dourado, marrom, azul, vermelho a verde. Estas também tendem a ter uma faixa longitudinal branca a amarela / laranja nas costas, além de algumas faixas transversais menores. A cor pode variar de acordo com o ambiente também, visando aparentemente camuflagem: adquire uma cor azulada ou esverdeada entre as plantas, avermelhada ou marrom nos troncos, e dourada no substrato. 

Macho e fêmea ovada de Camarão Malaio. Fotos Planet Inverts.


Um detalhe interessante sobre o Camarão Malaio é o seu ciclo reprodutivo. Apesar de provavelmente todos os camarões deste grupo terem um padrão parcialmente abreviado de reprodução, a duração da fase de larva no Camarão Malaio é mais longa, sendo mais fácil encontrar as larvas após a reprodução. Assim como as demais espécies, não requer água salobra para seu desenvolvimento, nem de alimentação especial.


Larva de Camarão Malaio com um dia de vida, e pós-larva, já com aspecto de camarão. Fotos Planet Inverts.


Quando está ovada, a fêmea do Camarão Malaio carrega cerca de 50 ovos, o que definitivamente é acima da média da maioria dos camarões no hobby. Depois de 15 dias, aproximadamente, as larvas eclodem dos ovos. Depois de cerca de 5 a 10 dias, a larva passa por cinco fases de zoea, e se tornará uma miniatura de adulto, com 2 mm. Nesta fase não se alimentam, consumindo nutrientes do seu saco vitelínico.


  • Pandya PJ, Richard J. Report of Caridina babaulti Bouvier, 1918 (Crustacea: Decapoda: Caridea: Atyidae) and description of a new species Caridina kutchi sp. nov. from Gujarat, India. Zootaxa. 2019 Mar 21;4568(3):470-482.
  • Klotz W, Rintelen TV, Christodoulou M. Middle East Caridina (Decapoda: Atyidae): Redescription of C. fossarum Heller, 1862, description of three new species, and remarks on the status of C. syriaca Bouvier, 1904 and C. babaulti basrensis Al-Adhub & Hamzah, 1987. Zoologischer Anzeiger. 2019 Nov 283:161-185.
  • Ganesh. Breeding and Life Cycle of Fresh Water Ornamental Shrimp-Stripe Shrimp, Caridina cf. babaulti. Int.J.Curr.Microbiol.App.Sci (2015) 4(7): 794-801.
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