Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais
Ibero-American Journal of Environmental Sciences
Mar 2021 - v.12 - n.3
ISSN: 2179-6858
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Carga parasitária x estresse oxidativo em Satanoperca jurupari
(Heckel, 1840) na Amazônia Oriental
Objetivou-se nesse trabalho verificar a carga parasitária da espécie Satanoperca jurupari (Heckel, 1840) e sua relação com a resposta bioquímica por meio da determinação dos teores de
tióis totais (GSH) e dos produtos finais da lipoperoxidação, aspectos até então não estudados para a espécie e região. As coletas foram realizadas de outubro de 2017 a outubro de 2018, no
rio Curiaú, zona rural da capital do Estado do Amapá. A análise de estresse oxidativo foi determinado após a homogenização do fígado de peixes da espécie Satanoperca jurupari, para
determinar os produtos finais da peroxidação lipídicas (SRAT) e GSH. Para análise parasitológica, utilizou-se as técnicas de microscopia de luz (DIC e Histologia). Nos resultados obtidos do
presente trabalho, há correlação negativa (-0,474) entre os teores de glutationa reduzida e SRAT, evidenciado níveis de estresse oxidativo moderados, com consumo de GSH e elevação dos
teores de SRAT, porém não há ocorrência exacerbada de danos oxidativos às biomoléculas. Devido a carga parasitária é evidente o consumo de GSH de forma acentuada e a geração moderada
de danos nos lipídeos de membrana causados pela infecção por parasitos. Foram identificados 3 gêneros do subfilo Myxoza: na vesícula biliar, Ceratomyxa e Ellipsomyxa, nas brânquias,
Henneguya. Nas nadadeiras, tegumento, boca, brânquias, opérculo e olhos foi encontrado 1 representante do filo Microsporidia. Registrou-se pela primeira vez a ocorrência de microparasitas
dos gêneros Ellipsomyxa e Ceratomyxa, e a segunda de Henneguya, assim como o primeiro registro de ocorrência de microsporídio para esta espécie. Com base em uma abordagem biológica
integrada inferindo que a função de defesa antioxidante (GSH) e a oxidação dos lipídicos (SRAT) foram impactadas pela taxa de infecção, de forma sistêmica, sugerindo que funções hepáticas
são alteradas. Estes resultados revelam a necessidade de maiores estudos referentes às características biológicas como detalhamento em microscopia eletrônica e biologia molecular para
identificação e descrição a nível de espécie. O presente estudo forneceu também informações valiosas sobre efeitos de parasitas em uma espécie amazônica e sublinhou a importância da
avaliação da associação dos marcadores de estresse oxidativo e a carga parasitária.
Palavras-chave: Estresse Oxidativo; Myxozoa; Microsporidia; Peixe.
Parasitary load x oxidative stress in Satanoperca jurupari (Heckel,
1840) in the Eastern Amazon
The objective of this work was to verify the parasitic load of the species Satanoperca jurupari (Heckel, 1840) and its relationship with the biochemical response by determining the levels of
total thiols (GSH) and the final products of lipoperoxidation, aspects not yet studied for the species and region. The collections were carried out from October 2017 to October 2018, on the
Curiaú River, rural area of the capital of the state of amapá. The analysis of oxidative stress was determined after liver’s homogenization of fish of the species Satanoperca jurupari, to
determine the final products of lipid peroxidation (SRAT), GSH and for parasitological analysis, light microscopy techniques (DIC and Histology) were used. In the results obtained from the
present study, there is a negative correlation (-0.474) between the levels of reduced glutathione and SRAT, evidencing levels of moderate oxidative stress, with consumption of GSH and
elevation of the levels of SRAT, however there is no exacerbated occurrence of oxidative damage to biomolecules. Due to the parasitar load, the consumption of GSH is evident and the
moderate generation of damage to membrane lipids caused by infection by parasites. Three genera of the subphylum Myxozoa were identified: in the gallbladder, Ceratomyxa and
Ellipsomyxa, in the gills, Henneguya. In the fins, integument, mouth, gills, operculum and eyes, 1 representative of the phylum Microsporidia was found. The first occurrence of microparasites
of the genera Ellipsomyxa and Ceratomyxa was recorded, and the second of Henneguya, for this cichlid, as well as the first occurrence of microsporidium for this species in the state of Amapá.
Based on an integrated biological approach inferring that the antioxidant defense function (GSH) and lipid oxidation (SRAT) were impacted by the infection rate, in a systemic way, suggesting
that liver functions are altered. These results reveal the need for further studies regarding biological characteristics such as details in electron microscopy and molecular biology for
identification and description at the species level. The present study also provided valuable information on the effects of parasites on an Amazonian species and underlined the importance
of assessing the association of oxidative stress markers and parasitic load.
Keywords: Oxidative stress; Myxozoa; Microsporidia; Fish.
Topic: Epidemiologia e Saúde Ambiental
Reviewed anonymously in the process of blind peer.
Received: 03/03/2021
Approved: 21/03/2021
Roger Leomar da Silva Ferreira
Universidade do Estado do Amapá, Brasil
http://lattes.cnpq.br/3436682345893190
http://orcid.org/0000-0001-5316-0380
rogersilfer@yahoo.com.br
Abthyllane Amaral de Carvalho
Universidade Federal do Pará, Brasil
http://lattes.cnpq.br/1247132992493228
http://orcid.org/0000-0001-9598-1590
abthyllaneamaral@gmail.com
Angley Pantoja Pinheiro
Universidade do Estado do Amapá, Brasil
http://lattes.cnpq.br/3842869738628189
http://orcid.org/0000-0002-0104-0632
angleyjm@gmail.com
Edilson Rodrigues Matos
Universidade Federal Rural da Amazônia, Brasil
http://lattes.cnpq.br/7895814591867510
http://orcid.org/0000-0002-9918-1408
edilson.matos9@gmail.com
Arllon José dos Santos Dias
Universidade do Estado do Amapá, Brasil
http://lattes.cnpq.br/1158053855228481
http://orcid.org/0000-0003-3812-9013
arllon0006@gmail.com
Gabriel Araújo da Silva
Universidade do Estado do Amapá, Brasil
http://lattes.cnpq.br/8633733418545174
http://orcid.org/0000-0002-9073-1995
gabriel.silva@ueap.edu.br
Marcela Nunes Videira
Universidade do Estado do Amapá, Brasil
http://lattes.cnpq.br/0155583853689152
http://orcid.org/0000-0002-9559-8521
videiravet@gmail.com
Referencing this:
DOI: 10.6008/CBPC2179-6858.2021.003.0013
FERREIRA, R. L. S.; PINHEIRO, A. P.; DIAS, A. J. S.; CARVALHO, A. A.;
MATOS, E. R.; SILVA, G. A.; VIDEIRA, M. N.. Carga parasitária x estresse
oxidativo em Satanoperca jurupari (Heckel, 1840) na Amazônia
Oriental. Revista Ibero Americana de Ciências Ambientais, v.12, n.3,
p.136-144, 2021. DOI: http://doi.org/10.6008/CBPC21796858.2021.003.0013
©2021
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Carga parasitária x estresse oxidativo em Satanoperca jurupari (Heckel, 1840) na Amazônia Oriental
FERREIRA, R. L. S.; PINHEIRO, A. P.; DIAS, A. J. S.; CARVALHO, A. A.; MATOS, E. R.; SILVA, G. A.; VIDEIRA, M. N.
INTRODUÇÃO
Os peixes podem ser hospedeiros de uma grande diversidade de organismos que estão distribuídos
dentro de diversos grupos, podendo ter o seu desenvolvimento afetado tanto em ambientes naturais como
em ambientes de cultivo (EIRAS et al., 2010). O Satanoperca jurupari Heckel, 1840, é um peixe popularmente
conhecido como acará-bicudo, que possui ampla distribuição na América do Sul (KULLANDER, 2003). Este
ciclídeo ornamental é onívoro e se alimenta de microcrustáceos, sementes de frutas, gramíneas e peixes
pequenos, bem como larvas de insetos aquáticos e terrestres (TAVARES-DIAS et al., 2017).
Os parasitos causadores de enfermidades em peixes são abundantes e apresentam membros dos
diferentes grupos zoológicos (FLORINDO et al., 2016). Os hospedeiros e parasitos são envolvidos em uma
relação de disputa por recursos imunológicos e bioquímicos. Enquanto que restrições podem definir um
limite para o possível resultado dessas interações, fica claro que estamos longe de quadro completo das
estratégias de proteção imunológica e fuga imune (SORCI et al., 2009).
A descoberta recente que patógenos podem induzir uma resposta antioxidante diretamente
relacionada ao grau de infecção, ou seja, em baixo grau de infecção apresentar aumento moderado das
defesas antioxidantes do hospedeiro suficiente para impedir danos celulares naturalmente gerados,
enquanto que quando altamente infectado levam à produção excessiva de espécies reativas de oxigênio ou
nitrogênio (ERO e ERN) que podem comprometer a sobrevivência do organismo, processos estes que ainda
estão sendo elucidados (KHO et al., 2018; BOX et al., 2020).
Todavia, é sabido que as interações parasito-hospedeiro podem gerar estresse oxidativo, que é
definido como um desequilíbrio entre os sistemas oxidantes e antioxidantes em favor dos primeiros. São
geradas inúmeras espécies reativas, levando a ocorrência dos danos oxidativos nas biomoléculas, em especial
aos lipídios de membrana, pelo processo de lipoperoxidação (JOARDAR et al., 2020).
Para monitorar o status oxidativo de um organismo se faz uso de biomarcadores bioquímicos, como
glutationa reduzida (GSH) e os produtos finais da lipoperoxidação, que são extremamente sensíveis a
qualquer alteração fisiológica do hospedeiro, quando exposto aos xenobióticos ou patógenos. Esses
biomarcadores quando aplicados em programas de monitoramento oferecem algumas vantagens porque
são normalmente os primeiros a serem detectados, apresentam alta especificidade, possuem baixo custo de
análise e fornecem informações a respeito do efeito metabólico causado pelo xenobiótico ou parasito
(RAHAL et al., 2014).
Desta forma, o presente trabalho objetivou verificar a carga parasitária do peixe amazônico
Satanoperca jurupari Heckel,1840 e sua relação com a resposta bioquímica por meio da determinação dos
teores de GSH e dos produtos finais da lipoperoxidação, aspectos até então não estudados para a espécie e
região.
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Carga parasitária x estresse oxidativo em Satanoperca jurupari (Heckel, 1840) na Amazônia Oriental
FERREIRA, R. L. S.; PINHEIRO, A. P.; DIAS, A. J. S.; CARVALHO, A. A.; MATOS, E. R.; SILVA, G. A.; VIDEIRA, M. N.
MATERIAIS E MÉTODOS
Coleta e transporte do material biológico
Os espécimes de peixes utilizados nesse estudo foram provenientes do rio Curiaú, Macapá-AP, no
entorno correspondente ao ponto (0o 8'43.6"N, 51o 2'30.3"W) (Fig. 1), sendo capturados pela equipe do
Laboratório de Morfosiologia e Sanidade Animal (LABMORSA/UEAP) auxiliados por pescadores locais com a
utilização de tarrafa de 30mm entre nós.
Figura 1: Mapa do estado do Amapá com destaque na Área de Proteção Ambiental do Rio Curiaú (Norte), na imagem
maior vemos o local de estudo com os 3 pontos de coleta (1, 2 e 3).
Foram realizadas 7 coletas de outubro de 2017 a outubro de 2018, totalizando 31 indivíduos, devido
ao tamanho dos peixes e massa dos fígados, 06 espécimes foram utilizados para determinação dos
biomarcadores. As coletas foram autorizadas pelo Comitê de Uso Animal da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária - Amapá (EMBRAPA/SEI 012) e com cadastro no Sistema de Autorização e Informação em
Biodiversidade (SISBIO/ICMBIO Licença 50376-1).
Os animais foram acondicionados vivos em caixas térmicas e transportados vivos com auxílio de
bombas à pilha até o LABMORSA/UEAP, onde procederam às análises parasitológicas e após a retirada e
pesagem dos fígados, foram levados ao Laboratório de Química Orgânica e Bioquímica (UEAP).
Os animais foram anestesiados com água fria e gelo e posteriormente eutanasiados através de
secção medular. Em seguida foi feita a biometria: pesados (g) e medidos (cm). Sendo analisada toda a
superfície corpórea através de microscópio estereoscópico binocular, para verificar a existência de lesões
(cistos) ou perda de revestimento (escamas e epiderme). Em seguida realizou-se incisões, na região ventral,
a fim de expor suas vísceras para que cada órgão pudesse ser examinado minuciosamente, seu fígado
retirado e pesado.
Técnicas de microscopia
Dos tecidos onde foram encontrados possíveis focos de desenvolvimento de parasitos, retiram-se
pequenos fragmentos, coletados com pinças e colocados entre lâmina e lamínula, para serem observados
através de microscopia de luz (ML) e em Contraste de Interferência Diferencial DIC (ZEISS - Axio Cam ERC 5S).
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Carga parasitária x estresse oxidativo em Satanoperca jurupari (Heckel, 1840) na Amazônia Oriental
FERREIRA, R. L. S.; PINHEIRO, A. P.; DIAS, A. J. S.; CARVALHO, A. A.; MATOS, E. R.; SILVA, G. A.; VIDEIRA, M. N.
Nos casos afirmativos para o parasitismo, os tecidos foram fixados em Davidson (álcool 95%,
formaldeído e ácido acético, água destilada) e processados pelas técnicas habituais de histologia para
inclusão em parafina, corados com hematoxilina e eosina (H&E) (LUNA, 1968).
Análises parasitológicas
A metodologia para a coleta e processamento de parasitos foi de acordo com a descrita por Eiras et
al. (2010), para cálculo de prevalência a metodologia adotada foi a de Bush (1997). A carga parasitária total
foi calculada considerando uma escala de pontuações, diferenciados em órgãos com contaminação leve (1
ponto), média (2 pontos) ou alta (3 pontos). Ao final todos os sítios foram somados (MEHLHORN, 2016).
Análises dos biomarcadores
Preparo do homogenato de fígado
Para a quantificação dos marcadores foram utilizadas amostras de fígado do S. jurupari
homogeneizadas na proporção de 0,5 g de tecido.6mL-1 de PBS (Nacl, 85,0g.L-1; Na2HPO4, 15,50g.L-1 e NaHPO4,
2,30g.L-1) com pH 7,2 ajustado com NaOH (1%). O homogeneizado no Graal e pistilo, sendo adicionado mais
4mL de PBS que foi centrifugado a 3500 rpm.10 min-1. Uma alíquota do sobrenadante de foi separado para a
determinação de proteínas totais pelo método de Lowry et al. (1951), sendo os resultados expressos em
µg.mL-1.
Determinação dos produtos finais da peroxidação lipídica (SRAT)
Os produtos finais da peroxidação lipídica (peróxidos lipídicos, malondialdeídos e demais aldeídos de
baixo peso molecular), ao reagirem com o ácido 2-tiobarbitúrico (TBA) e ácido tricloracético (TCA), formam
Bases
de
Schiff.
Tais
complexos
são
coloridos
e
sua
concentração
foram
determinadas
espectrofotometricamente a 535 nm (YEANG et al., 1998).
Em tubos de ensaio, foram pipetados 100µL sobrenadante do homogenato, branco ou padrão. A
cada tubo de ensaio foi adicionado 1mL de reagente TBA 0,73%/TCA 15%. As amostras foram submetidas a
aquecimento em banho-maria, sob temperatura controlada (100º C), durante 30 minutos e, em seguida,
submetidas ao resfriamento, em banho de gelo, por 10 minutos e, após centrifugadas à 3500 rpm.min-1. A
leitura foi realizada em espectrofotômetro a 535nm, em triplicata com valores expressos em mM/g.
Determinação dos teores de tiois totais (em equivalentes de GSH)
A glutationa, principal tiol intracelular, reage com o ácido 5,5'-ditio-bis-2- nitrobenzóico (DTNB),
formando um tiolato (TNB ou ácido 5-tio-2-nitrobenzóico) de coloração amarelada, mensurável
espectrofotometricamente a 420 nm.
A adição de 500 µL de DTNB (1 mg/mL de citrato de sódio 1%) nas cubetas contendo 500 µL da
amostra diluída em 1,5 mL de tampão fosfato pH 8 (0,2 M) permitiu a quantificação de tióis totais expressos
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FERREIRA, R. L. S.; PINHEIRO, A. P.; DIAS, A. J. S.; CARVALHO, A. A.; MATOS, E. R.; SILVA, G. A.; VIDEIRA, M. N.
em equivalentes de glutationa reduzida (GSH), após banho-maria, sob temperatura controlada (37° C),
durante 3 minutos e, em seguida, submetidas ao resfriamento em banho de gelo, a absorbância foi
determinada a 420 nm. As análises foram feitas em triplicatas e os valores expressos em mM/g de tecido.
Análises dos dados
Os dados foram analisados no software Microsoft Excel® para Windows, versão 2010. Os dados foram
expressos como a média ± erro padrão (n ≥ 5). Diferenças significativas nos dados foram analisadas pela
correlação de pearson (P ≤0,05) usando o programa R.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Satanoperca jurupari é uma espécie de ciclídeo com ampla distribuição (Fig. 2) no sistema do rio
Amazonas, no Brasil, Colômbia, Equador, Guianas, Peru, Suriname, Venezuela e Bolívia (KULLANDER, 2003;
FROESE et al., 2016; TAVARES-DIAS et al., 2017; FERREIRA et al., 2020).
Figura 2: Mapa de distribuição.
Os espécimes de S. jurupari coletados tiveram o comprimento médio de 15,35±1,38cm e um peso
médio de 56,09±10,36g. Dos 31 espécimes coletados de ciclideos nativos, S. jurupari, 100% estavam
infectados por microparasitos e demonstraram susceptibilidade parasitológica a uma variedade de espécies
de parasitos, tornando-se preocupante, pois além do interesse para aquarismo, é consumido pela
comunidade quilombola que ali habita e também pode ser utilizado na aquicultura como espécie forrageira.
Eiras et al. (2010) afirma que peixes de água doce podem abrigar uma grande variedade de espécies
de parasitos, sejam esses ectoparasitos ou endoparasitos, pertencentes a numerosos filos. Essa espécie de
peixe obtém alimento fuçando sedimentos, enterrando o focinho na terra, uma das justificativas para que
sua fauna microparasitária seja elevada.
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FERREIRA, R. L. S.; PINHEIRO, A. P.; DIAS, A. J. S.; CARVALHO, A. A.; MATOS, E. R.; SILVA, G. A.; VIDEIRA, M. N.
Nesse estudo foram verificados 2 filos de interesse: Microsporidia Balbiani, 1882 e Myxozoa Grasse,
1970, (Fig. 3) como pode ser visto na tabela 1, a prevalência dos filos encontrados. Ferreira et al. (2020)
descreveram uma espécie do Gênero Henneguya Thélohan, 1892, Henneguya sacacaensis para esse
hospedeiro, que causa uma leve hiperplasia entre os filamentos branquiais.
Tabela 1: Prevalência microparasitária e sítio de infecção nos órgãos de S. jurupari da área de Proteção Ambiental do
rio Curiaú-AP.
Microparasitos
Microsporídio
Ceratomyxa sp.
Ellipsomyxa sp.
Henneguya sp.
Prevalência
36,36%
27,27%
45,45%
72,73%
Sítio de infecção
Nadadeiras, tegumento, boca, brânquias, opérculo e olhos
Vesícula biliar
Vesícula biliar
Brânquias
Figura 3: Fotomicrografia dos Gêneros encontrados no Hospedeiro em estudo. A. Henneguya Inset: Corte histológico
de um cisto no filamento branquial corado em Hematoxilina e Eosina. Barra de escala 5 µm. B) Esporos de Ceratomyxa
sp. C) Esporos de Ellipsomyxa sp. D) Esporos de microsporidios.
Assim, para avaliar as relações parasito-hospedeiro e o status oxidativo dos animais foi selecionado
como órgão para análise o fígado, pois não apresentou infecção direta por parasitos na grande maioria dos
animais avaliados e é o órgão metabolizador, responsável pela detoxificação, bem como a produção
excessiva de ERO e ERN, gerada a partir de várias enzimas bioquímicas oxidativas endógenas, que interfere
na função normal das células específicas e, presumivelmente, desempenha um papel na patogênese das
diversas desordens hepática, inclusive as relacionadas com a infecção por parasitos (LUANGMONKONG et
al., 2018). No presente trabalho, as relações entre os teores de glutationa reduzida e produtos finais da
lipoperoxidação foram relacionados a carga parasitaria total dos indivíduos, como apresentado na tabela 2.
Tabela 2: Correlação de Pearson entre os biomarcadores de estresse oxidativo e a carga parasitária de S. jurupari da
área de Proteção Ambiental do rio Curiaú-AP.
Carga parasitária
GSH (Mm.g-1)
SRAT (mM.g-1)
Carga parasitária
1
GSH (mM.g-1)
- 0,762
1
SRAT (mM.g-1)
0,248
-0,474
1
GSH, tióis totais em equivalentes de glutationa reduzida; SRAT, substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico; mM.g-1,
milimolar por grama de tecido.
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FERREIRA, R. L. S.; PINHEIRO, A. P.; DIAS, A. J. S.; CARVALHO, A. A.; MATOS, E. R.; SILVA, G. A.; VIDEIRA, M. N.
A glutationa reduzida é um tripepitídeo rico em terminações sulfidrilas (-SH) que o caracterizam como
o antioxidante intracelular mais abundante, assim o sistema de defesa antioxidante que utiliza os tióis como
fonte redutora são os primeiros sistemas a serem consumidos pelas ERO ou ERN gerados. Nos resultados
obtidos do presente trabalho, há correlação negativa (-0,474) entre os teores de glutationa reduzida e SRAT,
evidenciado níveis de estresse oxidativo moderado, com consumo de tióis totais e elevação dos teores de
SRAT, porém não há ocorrência exacerbada de danos oxidativos as biomoléculas, principalmente lipídeos de
membrana (GUTTERIDGE et al., 2018; FARZAEI et al., 2018; MEDA et al., 2019).
Ao analisar de forma isolada os biomarcadores utilizados no presente estudo com a carga parasitária
é evidente o consumo de tióis de forma acentuada e a geração moderada de danos nos lipídeos de membrana
causados pela infecção por parasitos, como mostrado na figura 3.
Figura 3: Gráficos de correlação entre os teores de tióis totais (GSH), produtos finais da lipoperoxidação (SRAT) e carga
parasitária de Satanoperca jurupari da área de Proteção Ambiental do rio Curiaú-AP.
É notório que os processos inflamatórios estão associados as infecções por parasitos e levam a
formação de ERO e ERN por processos bioquímicos diversos, tanto pela defesa imunulógica especializada
quanto pela indução de processos inflamatórios inespecíficos (SORCI et al., 2009). Essas espécies reativas
formadas consomem o sistema de defesa antioxidante não enzimático (ácido ascórbico e betacaroteno), que
é restaurado com o consumo dos tióis totais presentes no meio intracelular, principalmente a glutationa
reduzida, por isso foi evidente a relação negativa (-0,762) entre a abrangência das infecções parasitárias com
níveis baixos de GSH, ou seja, quanto maior for a ocorrência de parasitos, menor será os níveis de GSH
(JOARDAR et al., 2020; TURRENS, 2004).
Apenas ocorrem danos oxidativos generalizados nas membranas plasmáticas após a depleção dos
sistemas de defesa antioxidante não-enzimático e enzimático intrínsecos as células e o desequilíbrio entre a
produção de espécies reativas e os sistemas de defesa, ou seja, instauração do estresse oxidativo, com a
formação exacerbada de produtos finais da lipoperoxidação, tais como o malonildialdeído (MDA), no
presente trabalho quantificados como SRAT. Assim, níveis elevados de SRAT são característicos de
organismos em situação de estresse oxidativo (GASCHLER et al., 2017). No estudo, foi mostrado que houve
o aumento moderado dos teores de SRAT com o aumento da carga parasitária, assim demonstrando uma
correlação positiva (0,248). Em outros estudos similares, também foram observadas correlações entre os
níveis dos marcadores de lipoperoxidação e grau de infecção parasitária (BOX et al., 2020; NABI et al., 2017;
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Carga parasitária x estresse oxidativo em Satanoperca jurupari (Heckel, 1840) na Amazônia Oriental
FERREIRA, R. L. S.; PINHEIRO, A. P.; DIAS, A. J. S.; CARVALHO, A. A.; MATOS, E. R.; SILVA, G. A.; VIDEIRA, M. N.
LACAZE et al., 2019). Todavia, estudos de correlação dos impactos das infecções parasitárias na geração de
estresse oxidativo são recentes e as referências ainda são limitadas, a maioria dos relatos em peixes é com
foco em aspectos ecológicos, pesticidas ou compostos inorgânicos (PAITAL et al., 2019; SRIVASTAVA et al.,
2017; KAPTANER et al., 2019).
CONCLUSÕES
O conhecimento da fauna parasitária dos peixes possibilita um diagnóstico e um controle sanitário
adequado a cada região pesquisada, podendo evitar causas de surtos de doenças desconhecidas,
possivelmente subdiagnosticadas, por consumo impróprio do pescado em determinadas regiões que sofrem
influência antrópica, como no caso da comunidade nas proximidades do rio Curiaú-AP.
O Satanoperca jurupari apresentou uma variedade na fauna microparasitária, com destaque ao filo
Myxozoa. Registrou-se pela primeira vez a ocorrência de microparasitas dos gêneros Ellipsomyxa e
Ceratomyxa, e a segunda do Henneguya, para este ciclídeo, assim como o primeiro registro de ocorrência de
microsporídio para esta espécie no estado do Amapá. Estes resultados preliminares revelam a necessidade
de maiores estudos referentes às características biológicas como detalhamento em microscopia eletrônica e
biologia molecular para identificação e descrição a nível de espécie.
Um desafio particular ao estudo de campo é avaliar as interações de múltiplos impactos ambientais,
como impactos naturais e antropogênicos estressores. Este estudo investigou os impactos cumulativos de
parasitas na saúde de peixes da espécie S. jurupari, com base em uma abordagem biológica integrada
inferindo que a função de defesa antioxidante (GSH) e a oxidação dos lipídicos (SRAT) foram impactadas pela
taxa de infecção, de forma sistêmica, sugerindo que funções hepáticas são alteradas. O presente estudo
forneceu informações valiosas sobre efeitos de parasitas em uma espécie amazônica e sublinhou a
importância de incluir a avaliação ambiental da carga parasitária.
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